quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Relato Total 10.000 km

Os irmãos W. de Felippe e Luis Fernando F. de Felippe viajaram de 2 a 31 de janeiro de 2006 pelo Pantanal no Mato Grosso do Sul, Bolívia, Peru, Chile e Argentina. Quase 10.000km.
W. de Felippe (56) XT 600 94 preta - Florianópolis/SC Luis Fernando F. de Felippe (47) XT 600 98 azul/branca -

Introdução

Este projeto teve início em 17/02/05, uma semana após uma confraternização que fizemos aqui em casa ,Torres-RS, (pois estou bem no meio do caminho) com um grupo de motociclistas (2 de Poa, 1 de Biguaçu/SC e 4 de Floripa, entre irmãos, primos e amigos) festejando o sucesso da viagem (Argentina, Chile e Uruguai) que eles fizeram em 01/05. Nesta eu não pude ir, fui o 8º parceiro virtual, acompanhava tudo pela internet. Então eu e meu irmão, Quico ( W. de Felippe ), demos início ao Projeto Machu Picchu / Atacama - 2006, começamos com a pesquisa por mapas, informações das cidades, estradas, condições do tempo na época da viagem, equipamentos e documentos necessários para a moto e motociclista, enfim, uma lista extensa de itens. Foram muitas trocas de e-mails (meu irmão mora em Biguaçu -SC ) e alguns encontros aqui em casa para planejarmos a viagem , elaborar roteiro, planilha com quilometragem (tivemos muita dificuldade para encontrar mapa rodoviário do Peru) e informações diversas como hotéis, pontos turísticos. O tempo passou rápido, o projeto estava no papel e eu ainda não tinha uma motocicleta. Intensifiquei a procura a partir da segunda quinzena de 09/05, e no final do mês meu irmão (que me ajudava na procura) anexa em um e-mail as fotos de uma Yamaha XT600, 98, azul e branca que ele achou. Olhei as fotos e gostei (uma XTzona lindona ), feita a revisão tudo ok, fechei negócio. Depois de passar por uma CG125 (1978 a 1982 ) e uma CB400 (1982 a 1988), dezessete anos após voltei a ser um motociclista. Há muito tempo tinha vontade de fazer uma grande viagem, uma Big Trail. Até então, éramos um grupo de 4 motociclistas, eu, meu irmão e dois amigos de Porto Alegre, o Fernando e o Léo , que participaram da viagem de 01/05.Quer dizer, projeto no papel, motocicleta na mão, amigos convidados, quase tudo ok, quase. No período da viagem, 02 a 31/01/06, eu tinha compromissos profissionais que me impediam de tirar férias. Foram quase 3 meses de espera, negociações, incertezas (não foi fácil). Finalmente, e somente em 14/12/05, tive a confirmação das férias...ufa! Agradeço aos colegas profissionais e amigos, Andréa, Márcio, Paula e Ricardo por terem me ajudado a dar uma nova configuração aos compromissos. E faltando 10 dias para a partida, recebemos a confirmação de que nossos amigos de Poa, por causa de compromissos profissionais não poderiam participar do Projeto Machu Picchu/ tacama - 2006. Respondi à eles: "esta grande aventura tem tudo para ser brilhante, mas com certeza o brilho seria muito mais intenso, com a presença dos amigos, parceiros. Mas, não faltarão estradas..." E como combinado, dia 01/01/06 a tarde, saí rumo a Florianópolis, para de lá partimos dia 02, dando início ao Projeto, uma grande viagem eu e meu Irmão. Nossa viagem superou todas as expectativas, foi maravilhosa. Foram 30 dias de novidades, 9600 km de estradas, paisagens, cidades, pessoas, inesquecível. Gerou 1300 fotos e um belo relato do nosso dia a dia, procurando também detalhar informações para os motociclistas que queiram fazer este roteiro. Agradeço a família e aos amigos que apoiaram e acompanharam a nossa viagem. Ao meu irmão: também fiquei muito feliz de fazer esta viagem contigo, sobraram ótimos momentos, muitas risadas e cervas. Já tenho saudades daqueles trinta dias de cumplicidade entre eu, tu e as estradas. Eu sempre digo: "tu é meu irmão mais velho preferido", he he he. FELIPPE (Neco)

ROTEIRO:


Torres-RS/Florianópolis-SC/Curitiba-PR/Corumbá-MS/Sta. Cruz de La Sierra-Bolívia/Macchu Pichu-Peru/São Pedro de Atacama-Chile/Corrientes-Argentina/Carazinho -RS/Torres-RS/Floripa-SC
DISTÂNCIA TOTAL: 9.500 km (650km de trem entre Corumbá-MS e Sta. Cruz de La Sierra-BO)
1º JAN- Saída de Torres. (Por Luis Fernando)

Saí de Torres as 15:45 h com a intenção de chegar em Florianópolis as 19:30h, uma previsão com folga para engarrafamentos, chuva. Cheguei as 21h. Após Laguna, começaram a cair alguns pingos de chuva, parei em um posto para abastecer, mas resolvi continuar sem a roupa de chuva, foi um erro. Alguns km depois a chuva aumentou e parei para botar a roupa. Procurei um abrigo e encontrei uma pequena casa na beira da estrada (acho que era uma ex-borracharia), parei a XT, puxei o pezinho lateral e fui soltando ela que foi caindo...Caramba! O pezinho não ficou em posição e a XT estava desabando, logo pensei: vai entortar o suporte do alforje (encrenca já no primeiro dia?). Fiz um tremendo esforço para evitar a queda, 1ª, 2ª, 3ª vez consegui reerguer a XT (que estava pesando cerca de 250 kg), ufa! Foi por pouco. Até Florianópolis, só chuva, Trafeguei em baixa velocidade pela esquerda, pois o lado direito da BR101 estava parado. Mesmo assim, cheguei a tempo de saborear um churrasco na casa do meu irmão.

02 JAN - Saída de Floripa às 6h

No roteiro inicial prevíamos uma rota por Curitiba-PR, Ourinhos, Assis e Presidente Prudente-SP. Resolvemos por outro roteiro por Curitiba, Maringá-PR e Pres. Prudente, reduzindo em 250km o inicial. De Floripa até Ponta Grossa pista dupla e sem ocorrências. Após Ponta Grossa, passamos por outra XT600 e ele logo nos passa de novo. Passamos novamente e logo chegamos a um pedágio, parando prum cigarrinho. Ele também para e ficamos conhecendo o Luiz Carlos da XT incrementada: uma magrela antiga e toda adesivada.
Como já vinha nos acompanhando, continuamos juntos. Numa segunda parada, papo vai, papo vem, disse que nosso roteiro ia pegar muita estrada estreita e esburacada. Mudamos o roteiro e não nos arrependemos. Fomos em direção à Londrina, saindo da estrada em que estávamos, em Mauá da Serra. No trajeto uma serra espetacular, com pista dupla e curvas pra fazer à 120km/h. Vista espetacular. Em Londrina o Luiz ficou e pegamos nossa primeira chuva forte antes de sair da cidade, seguindo pra Cambé/Rolândia e Florestópolis. Depois de muita chuva e já noite (eu com viseira fume já não enxergava mais nada ) decidimos dormir por lá mesmo. Achamos um Hotel razoável, mas não havia onde jantar na cidade. Então voltamos pra estrada e seguimos mais 12km até Porecatu. Ficamos num hotel nublado (sem estrelas) que não vamos nem indicar o nome, e jantamos na churrascaria do posto de combustível, que recomendamos.

03 JAN - Saída de Porecatu às 6h


Fomos em direção à Pres. Prudente/Pres. Epitácio-SP, entrando no Mato Grosso do Sul. Aqui começou o pepino. Retões sem fim. Poucos postos ativos e muitos fechados/abandonados. Não dá pra bobear: tem que abastecer em todos os postos pois a gente não sabe onde encontrar um de novo. As informações são muito divergentes (nos falaram que tinha um posto há 15km, que na realidade estava há 45km). Quase ficamos sem gasolina. 70km após Bataguaçu, por volta do meio-dia, trânsito parado, fumaça na estrada (pneu queimado) : protesto dos assentados pelo baixo preço do leite pago ao produtor. Bloquearam as estradas e acessos das 9 às 14:30h. Como conseqüência chegamos em Campo Grande às 18h. Na chegada em Campo Grande fomos pedir informação no posto de gasolina Ponto 2000 da Ipiranga, sobre hotel e a saída pra Corumbá. No meio do papo com o frentista, um grito vindo do bar do posto: aí tem gaúcho! E já veio um deles pra nos convidar pra comer um churrasquinho e tomar umas cervas. Depois do sufoco naquelas estradas sob um calor infernal, era o que a gente estava sonhando. (que desculpa pra tomar cerva, né?) Largamos as XTzonas e fomos pras Skol. O pessoal nos recebeu bem pra caramba. Não deixaram a gente pagar nada. Foram buscar, em casa, o Gelásio (presidente de um grupo de motociclismo e promotor de festas locais). Ficamos até a meia-noite churrasqueando. Ficamos no Turis Hotel R$44,00 apto. duplo e garagem, café da manhã.

04 JAN - Saída para Corumbá


Largamos às 7:30h para Corumbá (430km) na divisa com a Bolívia, fardados com roupa de chuva. Algumas paradas pro cafezinho (quase todos ruins). Recomendação do pessoal de ampo Grande: só abastecer em Postos Ipiranga e BR.. Passando a cidade de Miranda (meio do caminho) a minha XT deu uma balançada. Parei com o pneu traseiro furado. Sempre viajando a 110/120km/h (quando a estrada permite), mesmo nesta velocidade e pneu 140 a XT fica firme na estrada quando fura o pneu. Usamos o spray de reparo e não vedou. Aí, meu irmão foi buscar um macaco hidráulico, tiramos a roda e ele levou para consertar. Fiquei 2:30 horas no meio do Pantanal Matogrossense, a 38º C, mosquito pra caramba, sem um ventinho e com uma tremenda sede. Assim mesmo tava uma loucura. O Pantanal é uma maravilha. Resolvido o problema, voltamos pra estrada (horrível, toda ondulada e no máximo 80km/h). No km 660 uma surpresa: uma placa ao lado de uma ponte anunciava: BRUTO ? Dna. Maria e o jacaré do Globo Rural. Tínhamos parado pra tomar uma coca gelada e fomos ver o que era (o pessoal de Campo Grande já tinha comentado conosco). Quem for pra Corumbá não pode perder esta. A Dna. Maria já foi reportagem do Globo Rural e outras emissoras de TV. Ela bate com um pau na água e chama os jacarés pelo nome. É, pelo nome. Cada um tem um nome: Tafarel, Brutus, etc... E, quando ela chama, só vem o que ela está chamando. Os outros ficam só com os olhos de fora, parados. O jacaré que ela chama vem até a margem e sobe, ficando ao lado dela. Ela dá comida e chama outro, que vem na hora. Ela além de alimentar, passa a mão num gesto de carinho, pois diz que criou a todos desde filhotes. Eu também não resisti: disse a ela que não saia dali sem pegar a cauda de um deles. E a foto marcou a façanha. Este da foto tem cerca de 2,20m a 2,50m de comprimento. Voltando pra estrada, pela 2ª vez, nos deparamos com uma boiada no meio do asfalto, com umas 700 cabeças. Tivemos que parar e descer das motos pra não assustar o gado. O calor cada vez maior. Nas margens da estrada, nos banhados, uma pequena amostra do Pantanal: jacarés (muitos e de todos os tamanhos), veados (até lembrei de alguns amigos), gaviões, tuiuiús (ave símbolo do Pantanal ? são enormes) e muito mosquito. Passamos o tempo todo em baixa velocidade por haver perigo de cair ao bater em algum animal que cruzasse a estrada, além de matar alguma espécie nativa. Muitos não ligam pra preservação ambiental e atropelam os bichos que cruzam o asfalto. Fomos controlando (calculando o rumo e velocidade) as nuvens de chuva pra não pegarmos um aguaceiro. Como a região é plana a gente pode perceber o deslocamento das nuvens e ver se vão cruzar a estrada. Caso positivo a gente aguardava um pouco em algum posto de gasolina ou bar.
Já há 120 km de Corumbá, uma ponte com pedágio de R$3,00 para moto e R$5,00 pra carro (um roubo. A ponte tem uns 200m, e o pedágio é só pela ponte). A estrada é ... como vou descrever?... UMA MERDA! , toda esburacada, ondulada, rachada, etc... Logo após a ponte, um posto de gasolina, com araras, macacos, cervos. Não presos, mas nas matas e campos ao redor do posto. Lindíssimo. Chegamos em Corumbá já noite. Escolhemos o Hotel Sta. Mônica, no centro, apto. duplo/ar/frigo/piscina/internet R$80,00. Hoje precisávamos de um descanso melhorado, afinal ninguém é de ferro.
05 JAN - Fronteira com a Bolívia

Saímos à luta para desvendar os mistérios da viagem no trem da morte para Santa Cruz de La Sierra-Bolívia. Por indicação do pessoal de Campo Grande fomos procurar o Vladimir (dono do Café Sâo Paulo, que nos atendeu como a um irmâo, deixando o trabalho de lado pra atender uma pessoas que nunca tinha visto na vida. Nos colocou na sua Ecoesport limpinha e foi procurar o Antelmo, na cidade de Paradero, para auxiliar-nos nos meandros da burocracia boliviana, e lambuzou de barro o carro todo. Ao Vladimir o nosso grande abraço que nâo conseguimos dar antes da partida. Para entender melhor: saindo de Corumbá, em direção à fronteira, chega-se num posto da receita federal do Brasil (passa-se direto pois não é preciso identificar-se para sair do Brasil), 50m depois já cruzamos a fronteira e estamos em Arroio Concepcion, onde se localiza a Aduana (veículos) e a Imigração (pessoas) Boliviana. Primeiro passar na Imigração para dar sua entrada no País. Levar o Passaporte, Carteira Internacional de Vacinação (febre amarela), e preencher o formulário que vão lhe entregar. Lembrar que este formulário deve ser bem guardado pois será exigido na saída da Bolívia. Eles carimbam o formulário e o Passaporte. Na Aduana, levar a moto, o certificado de propriedade (não pode estar alienada), passaporte com o carimbo de entrada e a carteira de habilitação internacional (tirar no Touring Clube no Brasil R$140,00) para que eles emitam o documento de permissão para transitar com a moto pela Bolívia. Nada disto é cobrado. Com o auxílio do Antelmo as providências foram agilizadas . Ele entra nos escritórios, fala com a polícia, adianta tudo. É ótimo) De posse do Passaporte carimbado e do Permisso pra moto, fomos pra estação de trem para comprar as passagens. Tudo lotado pra hoje e pra manhã. Só sairemos no sábado. Compramos os bilhetes pro Pulmann a $115 (cento e quinze bolivianos = R$ R$38,00) que sairá às 11:45h e chegará às 6:00h em Sta. Cruz. Para as motos, antes de embarcar, tem que ir falar com o Bodegueiro (encarregado da Bodega - vagão de carga) que vai dizer quando embarcar e que horas levar as motos para pesar. O valor do transporte da moto é de BO$1 por Kg de peso da moto. Depois de pagar a taxa, a moto vai ser embarcada pelos empregados da estação e a gente deve acompanhar pra garantir que vai ficar bem fixada com os tensores de catraca que a gente deve levar. Depois de tudo acertado, pagamos R$70,00 pelos serviços de facilitação da burocracia e recomendo que quando alguém se aventurar neste roteiro de aventura, procure o Antelmo. Uns 200m depois da estação de trem, tem a Zona Franca Puerto Aguirre, onde tudo tem preço menor que no Brasil (câmeras digitais, cartões de memória, equipamentos de informática, som e vídeo, ferramentas, bebidas, perfumes, etc... Não se paga pra entrar. Se quiser visitar pode ir de táxi (boliviano) pois é muito barato.
06 JAN -

Morgando em Corumbá e o misterioso Silveira
Estava terrível de quente. Acordamos às 8h, café no hotel. Levei a XTzona para lavar. Fomos procurar um cyber-café para tratar as fotos para reduzir tamanho para internet . Não conseguimos um micro com o programa. Aí, muito calor, fomos pras Skol. Encostamos numa padaria e mandamos baixar duas geladas numa mesinha na calçada. Papo vai, papo vem, aparece um coroa duns 65 anos, roupa meio suja, e começa a falar com a gente, contando umas meio histórias meio piadas. O cara meio com jeito de mendigo (só jeito) mas num papo que a gente percebeu certa cultura. O cara é o Silveira. Gente finíssima. Por alguns percalços da vida deve ter ficado na pior. Constatamos que ele gosta de ajudar as pessoas. Depois de muito papo pedi uma coca para ele e sentou-se com a gente. Foi meio-de-campo de vários clubes de futebol (brasil/bolivia/chile/ equador/peru ) mas não perguntamos por que parou. De repente, levanta, vai até a esquina e fica olhando para longe com as mãos na cintura. Volta, me olha e diz: não deves fazer nenhum acordo verbal. Se fores fazer algum acordo leva um homem de preto ou faz as vezes dele. Vais ter uma surpresa financeira muito boa após 2 de fevereiro. Compra uma bola, dessas para exercitar a musculatura da mão. Tens necessidade de ficar em contato com a natureza em decorrência de tuas vidas passadas. Descendes de Buda. Precisas cuidar de teu estômago. Parou, olhou pro meu irmão e disse uma série de coisas, que acho que ele vai relatar depois.Vidente? Não se sabe. Mas acertou um monte de coisas. Saímos da padaria e fomos levar as motos para embarcar no trem. Chegando na estação procuramos o Bodegueiro (Franklin) com quem fizemos amizade. Mesmo assim levamos 4 horas para colocar as motos no vagão pois tinham que terminar de descarregar um caminhão. Primeiro pesam-se as motos numa casinha tão pequena que quase arrancam os baús laterais da minha XT. A minha pesou 237kg com os três baús. A outra 217kg. Os estivadores começam pedindo R$125,00 por moto (US$50). Pechincho e baixa para $200 bolivianos (R$70,00) e na tacada final fecho por R$50,00 por moto. Embarcamos as motos em níveis. Primeiro para cima de um caminhão e do caminhão para o vagão. Fixamos cada moto com dois tensores com catraca e ainda colocaram duas cordas na traseira. Fomos para o escritório do Bodegueiro para ele fazer a Nota de Despacho e pagarmos o frete ($1,00 boliviano por kg). A minha saiu R$80,00 e a outra R$70,00. Fugimos daquele sufoco e fomos pro hotel de táxi boliviano ate a fronteira ($3 bol por pessoa) e outro brasileiro até o hotel por R$20,00 (os táxis não circulam fora do País de origem - pelo menos teoricamente).

7 DE JAN - Saída de Corumbá.


Acordamos 6:00 h pelo despertador do celular , não nos dando conta que estava no horário de Floripa, ou seja acordamos as 5h. Na fronteira fomos pegar um táxi boliviano e o cara pede $10bol. Argumento que ontem paguei $6. Ficou por $6, mas disse que ia pagar $8 porque ele ia me deixar na Zona Franca e meu irmão na estação. Desci na zona franca e meu irmão foi para estação. Acontece que ele não entendeu direito e pagou R$8,00 (reais) assim toda aquela minha energia canalizada para a pechincha foi pro espaço. O cara recebeu $24 bol. Deve tá rindo até agora. De volta da zona (franca é claro) uma enorme fila foi se formando pro embarque. Quando abriram a entrada a raça começou a vir de tudo que é lado e a fila foi pro saco. A polícia teve que intervir para organizar. Devidamente acomodados, o trem parte. Vale salientar algumas coisas sobre o trem: o único que tem ar-condicionado é o Super Pulmann. Nós fomos no Pulmann, cujas poltronas são como de ônibus. As janelas ficaram abertas dia e noite pois o calor é insuportável. Nunca pegue lugar no corredor pois não chega muito vento. Peça a poltrona na Ventanilha (janela) . Dica: o trem saiu às 11:45h e os melhores lugares são os números pares que nâo pegam sol a viagem toda. Primeira estação e o condutor (que já me conhecia) vem me chamar pois está vazando gasolina da moto. Fui correndo porque o trem já ia saindo. Chego no vagão e a moto está no chão. Nem esquento, levanto a moto e tiro todo o restinho da reserva. É obrigatório retirar toda gasolina do tanque e não pode levar frasco com quebra-galho. Em Sta. Cruz tem um posto de gasolina (Surtidor) a cerca de 3 quadras. Se o cara não me conhecesse, a moto teria sido descarregada na hora e eu só ia ficar sabendo em Sta. Cruz. 2ª Estação: Vem outro e me avisa que a moto caiu de novo. Vou correndo. Deu pena. Tava a minha caída de lado e por cima dela a de meu irmão. Só pude notar o para-brisa quebrado e o banco da outra arrancado. Solução: quando não há solução, solucionado está. Como elas ficaram? não sei, porque estou escrevendo esta parte do relato dentro do trem. Como elas vão ficar? Nem imagino. Depois eu conto. Mas a vida no trem é muito engraçada. Passam dezenas de garotas e garotos (8 a 16 anos) vendendo comida, limonada, empanada, refri lata, água, frutas, etc.. Quando o trem para, troca a turma de dentro (equipe de vendas) e lá fora outras dezenas vendendo pelas janelas do trem, coisas que não dá para entender o que é. A equipe interna fica circulando boa parte do percurso, aos gritos: limonada, café "brasileiro" - só imagina o que deve ser. Só param à noite (graças a Deus). Os Bolivianos que sabem o que estão fazendo, compram de tudo. Mas o cheiro da comida é muito forte, muita gordura e muita fritura. Paramos em mais duas estações mas não pude olhar as motos. Numa outra estação consegui chegar até o vagâo, subi e tentei erguer a moto do meu irmão. Nem mexeu. Está com 220kg e trançada com a minha. Falei com o condutor e ele disse que na cidade de Roboré eu teria mais tempo (20min). Voltei e conversei com meu irmão e concluímos que vamos deixar a bosta como está e ver amanhã como é que ficou. Paramos em Roboré e saí do trem para conhecer a estação. Uns 150m antes da estação começava o carreiro de barracas vendendo de tudo (churrasco não sei de que, pastéis de sei lá o que, um PF que não identifiquei a composição). Os passageiros bolivianos detonaram com tudo. Quando eu me decidi a provar alguma coisa não tinha mais. Ainda com um tempinho de folga, fui papear com alguns brasileiros que a gente avistava e nem precisava ter uma bandeira na cabeça que a gente sabe que é da terrinha. Um casal, ela de Floripa e ele de Chapecó. Uma turma de 6 ou 7 do Rio. Todos indo a Macchu Pichu, mas por caminhos diferentes. Aí, um carioca diz que recebeu informação de que está nevando em Cochabamba (nosso trajeto). Lá vamos nós para mais uma encrenca.
8 JAN - Em Sta. Cruz de La Sierra

Mas, então, depois de 21 horas dentro daquele trem, chegamos em Sta. Cruz de La Sierra (uns 400m acima do nível do mar). Mais uma hora esperando para liberarem a carga. Abre-se a porta do vagão e surpresa : AS MOTOS NÂO ESTAVAM MAIS LÁ. Mentirinhaaaaa!!! Começo a juntar os cacos e alcançar pro mermão. Da minha XT : 1 espelho, capacete e viseira, carenagem lateral, trinca no para-brisa, manopla, pintura dos dois baús laterais e entortou suporte dos baús. Do mermão: carenagem lateral, quebrou o pé de descanço, e ralou o tanque.Na minha foram mais coisas mas na dele poucas e mais graves. Descemos as motos e começamos a remontar o que dava. Aqui a primeira carcada nos estivadores exploradores: antes de descarregar (é normal eles ficarem quietos até terminar o serviço e depois dar a facada) perguntei quanto era. O cara me diz que vai sair $200 bol. Eu digo pro cara: tá maluco, paguei ontem $100 para levantar e tu queres $200 para baixar? Aí o cara fecha em R$100. Só que ele achou que eu estava falando das duas motos e eu falava de uma só. Então o que me ferraram lá em Corumbá, descontei em Sta. Cruz. Hehehehehe. Montamos, arrumamos, fixamos, enjambramos e é só dar a partida rumo a Cochabamba. Decidimos cruzar direto por Sta. Cruz para recuperar os dois dias perdidos em Corumbá. E ai? E aí? A minha XT não pega. Afinal ficou deitada 21h no trem. Troquei vela, fizemos chupeta na bateria e ½ hora mais tarde, finalmente pega. Fomos procurar direto em soldador pra arrumar o pé do descanso (o resto pode esperar), mesmo sendo domingo achamos um aberto e resolvemos em ½ hora. Fomos pedindo informação da estrada para Cochabamba e paramos na frente de um restaurante chinês e resolvemos almoçar ali mesmo. Beleza, comemos Cervo acebolado com shop suey. A gente sempre quis comer veado. É veado e não, viado. Não se empolguem. Às 14h pegamos a estrada, mas as informações eram completamente diferentes. Saímos sem saber o que iríamos encontrar. No início placa com 412km. Um km após, no pedágio, 489km. A estrada é um ?petáculo? como diz nosso amigo Miguel. O asfalto muito bom, pouquíssimos buracos, sinalizada. Média de 100/120km/h. O único problema são as muitas cidadezinhas no trajeto. Ao se aproxima, Lombadas (mal sinalizadas e pequenas), passei direto em duas. O trânsito nestas cidades é totalmente desorganizado. Os carros e motos (estas aos milhares)retornam sem sinalizar, em qualquer lugar. Ninguém usa capacete. Andam em 3, 4 e até 5 (contando com criança pequena). É de apavorar. Depois de rodar 220km paramos para abastecer. Informação : NÃO TEM GASOLINA. Descobrimos que sempre tem uma saída. Tem sempre dois fornecedores de gasol. O oficial é o "SURTIDOR" (posto de gasolina) e o outro a chamada ?BOLSA NEGRA? ( ou mercado negro), que foi a que nos salvou. É uma casa de venda de óleo lubrificante mas ao lado tem vários tonéis com gasol e diesel. Fica ao lado do posto de polícia e opera descaradamente. Pra variar, depois de todas as encrencas do dia, começou a escurecer. Paramos em um hotel mas desistimos porque não tinha comida, ar-condicionado, sabonete, etc... Resolvemos continuar. Faltavam cerca de 270km. Rodamos uns 50km e a pista começa trocando de asfalto para pedra e voltando pro asfalto. Até que chegamos em um ponto em que tudo parou, pois estava só uma pista liberada. Esperam todo um lado passar e liberam o outro. Com as viseiras detonadas o jeito foi grudar em uns micro-ônibus que iam pra Cochabamba, deitando o sarrafo. Falando com um dos motoras ele diz que o trecho era pura encrenca e todo em subida (de 500 pra 2.000m) e que levaríamos cerca de 3,5h para os 120km restantes. Voltamos praquele hotel que não tinha nada, mas tem cama. No caminho resolvemos fazer um rango e paramos num restaurante de estrada. O quadro era cômico. Beira de estrada. Uns quinze bolivianos jogando vôlei no escuro, uma gorda cozinhando e uma magra servindo. Vieram 2 PF dos grandes e tomamos duas cervas Paceñas. Pegamos a estrada e chegamos ao hotel Vila Turina. O Gerente Don Víctor, duro na queda, abriu no desconto e logo nos ferrou no câmbio e pagamento adiantado. Aí entra o meu irmão (Neco) que começa a sacanear o cara. Botava a grana em cima do balcão e quando o Don ia pegar ele fazia outra pergunta e puxava devagar a mão. E assim foi umas três vezes. Don Victor já devia estar uivando por dentro.

9 JAN. - Rumo a Cochabamba

450m de altitude.
Saímos às 8h e tocamos para Cochabamba. A estrada estava mesmo horrível. Foi bom ficarmos à noite naquele hotel. Mas a estrada não é toda ruim. Destes 270km que faltavam, só uns 50km estão ruins (subida de serra) o restante está muito bom. Ao entrarmos em Cochabamba nos deparamos com o trânsito. Milhares de motos, todos sem capacete, micro ônibus coloridos, vans ferozes caçando passageiros, todos param em qualquer lugar da rua. Se a rua tem 3 pistas eles param em qualquer uma delas se um passageiro fizer sinal. Se vem carro atrás, paciência. Uma loucura nunca vista. Pedi informações sobre uma livraria com a idéia de conseguir um mapa da cidade. Achamos uma, compramos o mapa e ainda conhecemos um sonhador (quer, mas não realiza) de viagens de moto, que nos deu dicas de hotéis e restaurantes. Achamos o Hotel Kokusai, na Av. Ayacucho, 552. Muito bom, a US$28,00 o apto. duplo, garagem fechada. Meio da tarde fomos conhecer o morro que tem a estátua do Cristo Redentor. Uma vista bacana da cidade, que está situada em um vale e tem 800.000 habitantes. Ao final do passeio tentamos localizar uma oficina e recolocar meu retrovisor, mas desistimos por não encontrarmos uma adequada. Vale ainda ressaltar um aspecto único quanto ao trânsito da cidade: Existem centenas de lotações Toyota, Nissan, etc... com 5 portas. Ocorre que eles embucham 10 passageiros, sendo 2 no banco ao lado do motorista, 4 no banco de trás e quatro no porta-malas que vai com a porta aberta para cima e os passageiros com as pernas para fora. Não é um ou outro. É o normal de todos. Isso na cidade ou na estrada.

10 JAN. - Saída de Cochabamba

Hoje saímos mais tarde, às 8:30h. Tentamos sacar $ em vários caixas automáticos e o cartão do Neco não funcionou em nenhum. Preocupação séria . Como ainda tínhamos alguns bolivianos e alguns dólares deixamos para resolver o problema em La Paz. Como o óleo da minha XT estava um pouco baixo fomos comprar um litro para completar. É a maior dificuldade de encontrar alguma coisa pras motos. Os postos (surtidores) são simplesmente as bombas de gasolina e um frentista. Não tem mais nada. Fora da cidade falamos com um motorista de Táxi que se ofereceu pra levar-nos numa loja de "lubricantes" onde conseguimos o óleo.
Pegamos a estrada. São 420km até La Paz. Levamos 11h. Problemas? Não. Um puta dum visual. A gente mais parava pra fotos do que rodava. A estrada é excelente. Nos primeiros 30km é quase plano. Daí pra frente vai-se subindo bastante. No km 60 há uma "bolsa negra" de combustível. Neste ponto já estamos a 2.200m a.n.m. No km 92 há um surtidor na localidade de Pongo (4.000m). Aí as motos começam a falhar e engasgar. Não dá pra abrir o punho que ela engasga. Subindo a 70/90km/h. Paramos e tiramos o filtro de papel da moto do Neco e colocamos esponja. Passou a andar mais que a minha. Enquanto estávamos parados vimos uma situação que nos chocou. Pára um ônibus de linha (tipo nosso interestadual) e vimos o motorista descer e abrir o compartimento de carga e alojar uma índia com uma criança. Pensamos: que loucura o cara levar a mulher com aquela tampa aberta, pois em uma curva poderia rolar pra fora. Triste ilusão. O cara fechou a tampa e a índia e a criança foram fechadas o resto da viagem. Uns km atrás encontramos um grupo de 7 motos XL 250, que estavam na beira da estrada abrindo os carburadores pra reduzir o giclê (diminuir a entrada de gasol) por causa da altitude. Como o ar é rarefeito a mistura precisa ser reequilibrada e uma saída é reduzir a vazão de combustível. Um cuidado muito grande que deve-se tomar é com os cachorros à beira da estrada de Cochabamba a La Paz. Em todo o percurso. São cachorros grandes, pretos ou amarelados, que podem derrubar as motos. Estes "perros" são dos nativos e como os bolivianos costumam comer durante suas viagens, descartam o lixo pelas janelas. Este costume levou os cachorros ao hábito de aguardo do descarte. Depois deste último abastecimento, todos os postos na estrada estavam sem gasolina. Tivemos que usar nossos tanques reservas (5 litros cada moto). Chegando em La Paz, olhando à direita da rodovia vê-se o Monte Chacaltaya com seu pico nevado (1ª visão de neve da viagem) e olhando-se na direção de La Paz o resto da cordilheira. Estamos no altiplano Boliviano e do outro lado da cordilheira a Bolívia Amazônica. A estrada entra direto na cidade e transforma-se numa avenida de 4 pistas de cada lado. Em La Paz a loucura do trânsito é maior que em Cochabamba, mas diferente. Não há motos (em dois dias avistamos 6 motos), com exceção às motos da polícia. Aqui o problema são as Vans e os Táxis. Nos disseram que são por volta de 200.000 veículos. Eles não param em sinal vermelho, não reduzem nas faixas de segurança, entopem as 4 pistas com as vans caçando passageiros, os táxis vão caçando passageiros pelo caminho como um lotação . E, o pior, todo mundo buzina o tempo todo, para todos e pra qualquer coisa. A gente até se divertia: parava o da frente a gente já buzinava. Mas ninguém briga, nem se xinga. É uma paranóia controlada. Andar de moto é um perigo, pois eles não estão acostumados e costumam mudar de faixa a todo o momento, uns fechando os outros (mesmo assim a guerra é só na buzina, sem brigas). No término desta avenida inicia uma auto-pista com pedágio de $2 bolivianos (foi o único pedágio que pagamos em toda a viagem). Esta auto-pista circunda a cidade (que fica literalmente em um buracão ) e chega-se ao centro da cidade. Não conseguimos o mapa da cidade e tivemos muita dificuldade em achar o Sucre Palace Hotel (indicado em um relato de motociclista). Depois de muito rodar no trânsito louco, já noite, chegamos ao hotel. Negociamos por US$30 apto. duplo, garagem, café. Mas se arrependimento matasse... O Hotel está em visível decadência. Fui tomar um banho e abri a água quente (?) durante 20 minutos e não esquentava. Não tinha toalha de rosto (depois descobrimos que em 90% dos outros hotéis também não haveria). O telefone não funcionava. Reclamar não adiantou. Quem vier pode tentar a nossa 2ª opção que era o Hotel Lido, Av. 6 de agosto, 2074.

11 JAN - La Paz

Acordamos às 6h e às 8h já estávamos no Banco do Brasil, ao lado do Hotel, na av. do Prado, para resolver o problema dos saques. Perdemos quase toda a manhã e sem solução. Aqui no Brasil o Banco do Brasil informa uma coisa e depois que a gente está no exterior ninguém consegue resolver nada (a agência não sabe o que está acontecendo, o 0800 não atende ligação do exterior, a agência local diz que não existe terminal eletrônico na Bolívia). Fomos tomar um tremenda Capuccino e depois rumamos para a oficina NOSIGLIA (indicada em outro relato) que fica na zona sul da cidade, na Av. Costaneira 29 - Colocoto. Apanhamos mas achamos. Deixamos as motos com o Walter (a cara do Schuk Noris) que nos levou de pick-up à região dos restaurantes. Almoçamos na Bravíssimo - Pizzeria y Trattoria. Excelente. Ótimo ambiente. Comemos um Filetto Rossini a $48 bol. Regado a cerveja Huari. Av. Montenegro esq. Calle Ferrecio (aqui pronuncia-se "caie" e na argentina "calhe" = rua). Voltamos para a oficina (tailler) e as motos levariam mais uma hora. Paramos um táxi e perguntamos quanto saia para visitarmos um sitio arqueológico. Então, fechamos com o Arsênio LLamaca (f: 70699275) por US$50 ida e volta mais uma hora no local, e fomos para as Ruínas de Tiwuanaka. Chegamos lá às 16:15h. Bilheteria fechada às 16h. Lá fomos nós ?cantar a polícia (o exército é a única polícia e está presente em todos os locais públicos: bancos, trânsito, etc...) a nos deixar entrar. Convencidos, chamaram o bilheteiro e compramos o boleto de visitação por $80 bol por pessoa, e saímos na maior corrida (que a falta de oxigênio permitiu) e conseguimos ver 2 ruínas e um museu. É espetacular a arte com que faziam as coisas manualmente. As escavações no local continuam, pois vimos alguns trabalhadores erguendo uma rocha de 4x5m e uns 90cm de espessura, para continuar escavando abaixo. Voltamos às 17:30h e fomos buscar as motos que ficaram ótimas (regular Carbura, redução de giclê (não trocam o giclê, mas simplesmente passam duas voltas de um fio de cobre por dentro do buraco do giclê já instalado), troca de óleo (ou câmbio del aceite) e esticar e lubrificar a corrente, que nos custou $187 bol ou R$62,00. Voltamos para o Hotel abaixo da maior chuva e fiquei redigindo este relato até às 3h da manha. O que eu não faço por vocês, né? Depois disto resolvemos que vamos ficar mais um dia em La Paz. Seguir em frente com chuva não nos permitiria visitar ?El tribunal Inca? (120km) e o passeio pelo Lago Titicaca. Amanhã a gente vai visitar o Pico Chacaltaya e o mercado de Las Brujas.

12 JAN - LA PAZ


Acordamos às 9h. Ainda chovia. Tomamos um café e saímos. A chuva já tinha parado e resolvemos fazer contato com o Arsênio para ele nos levar ao Chacaltaya (na Cordilheira Real) que fica uns 40km de La Paz. Acertamos em US$70 e saímos às 11:30h. Perto do Pico imaginava que iríamos parar na base e fotografar, mas o carro não parava de subir.Até um ponto em que a neve estava na beira da estrada ( e a gente: encantados). Chegou um ponto em que eu achei que ele ia parar porque já tinha um micro-ônibus parado e a neve estava com uns 20cm na estrada. Mas ele foi até o final. No topo visitável do pico (5.100m) tem uma cabana e outras instalações para receber turistas, mas meio abandonadas. A vista é incrível. Neve por todos os lados. Indescritível. Mesmo vendo as fotos, a emoção só estando lá. Não estava muuuuuuito frio, pois eu cheguei de regata e só depois é que coloquei a jaqueta jeans sem manga (hehehehehe). Próximo a este pico está o Waynapotosy (2º em importância). Este passeio já valeu a metade da viagem. Final de tarde internet e muita chuva. Tinha mais alguma coisa com relação a umas gurias mas eu não lembro direito. (hahahahaha) Brincadeira amoreco.
13 JAN. - Viagem La Paz a Puno
Saímos às 7h direto para a estrada para Copacabana (Lago Titicaca). A estrada muito boa. Quando avistamos o Lago começamos a parar para fotografar. Paisagens lindissimas. Numa destas paradas chega uma Pick-up, placa da Bolívia, e o motora desce e se apresenta como motociclista (ele diz que mesmo sendo de Halley) e queria conhecer a gente e saber alguma coisa sobre nossa viagem. Conversas trocadas, até São Pablo de Tikina, onde a estrada termina no lago. Nos despedimos do cara da Halley e família, e botamos as motos na balsa ($5 bol/moto). Cerca de 15 min e estávamos do outro lado em São Pedro de Tikina. Aí a estrada fica horrível. Centenas de buracos e remendos andamos a 60/70km/h. Na cidade uma barreira policial. Descemos, fomos até a guarita e os policiais nos pediram o Passaporte e Carteira de Habilitação Internacional. Um deles registrou no livro e disse que era $2 bol de cada. Pagamos. Ele entrega os documentos pro policial da outra mesa, que diz que são $5 bol de cada pelo direito de visitar a cidade. Caí na gozação, mas não era propina. É uma arrecadação para o município (fornecem um boleto). Na saída cumprimentei os dois que me cobraram e agradeci o outro por não ter me cobrado nada. Risadas em geral. A cidade não é tudo aquilo que divulgam. Não se parece nem um pouco com a nossa do Rio de Janeiro (não vi tiroteio nem arrastão) mas diz a história que dali saiu a imagem santa que deu o nome a nossa Copacabana. Por falta de tempo não fomos visitar as ilhas do Sol e da Lua. Almoçamos, muito bem, à beira-lago, comendo Truchas La Plancha (trutas na chapa) no restaurante ao lado do quartel da Marinha. Na saída da cidade sentamos ao lado da estátua do Rei Inkamankopaca para uma foto. Alguns Km após a saída chegamos à fronteira na cidade de Youngoyu, passamos pela Imigração (Passaporte p/ carimbar saída) e Aduana (ficam com o Permisso da moto). No meio da pista, na frente das cancelas da fronteira, uma rede de vôlei e um monte de nativos jogando. Para sair do País tivemos que passar por fora do campo de vôlei pra não atrapalhar o jogo (segundo o policial de plantão, eles jogam ali na estrada porque não existe outro lugar apropriado).????????. Uns 500m depois chegamos à polícia peruana. Primeiro Aduana para registrar a entrada das motos e fornecer o permisso. Depois a Imigração, preenchendo um formulário e carimbo no Passaporte. Tudo resolvido. pegamos as motos e a primeira cancela é aberta. Passamos e vamos para a segunda cancela (10 metros depois), mas aí um policial manda se dirigir à guarita. Descemos e nos pedem, novamente, os documentos das motos. Mui delicadamente pergunto pra que serve a primeira guarita em que apresentamos os documentos e nos deram o permisso. Aí um cara de pau me diz que a primeira é para oficializar a entrada da moto e essa agora, para nossa segurança, pois os dados serão transmitidos para a polícia de todo o País. Entretanto, para a transmissão destes dados para Lima (Capital) eles estavam sugerindo uma contribuição de pelos menos uns $10 soles por moto (essa foi uma propina descarada). Fui cambiar pra poder pagar (câmbio ao lado da Aduana). Tentei dar uma ganhada no cara mas não deu. Peguei $10 soles, fui até o policial, entreguei e me despedi no maior sorriso. Virei de costas e escutei : ?e la otra moto??. Aí me virei pro cara e caímos na gargalhada eu e ele. Paguei mais $10 e ficamos de papo com eles (uns oito) contando piadas e rindo (quando o estupro é inevitável: relaxa e goza). Ainda nos indicaram pra visitar o 5,5 (cinco e medio) um bordel na entrada de Puno (onde devem morar suas madrecitas). Com a estrada uma miséria e muitas paradas para fotos, chegamos em Puno já noite. Barreira policial. Só uma rápida inquisição por um cabo metido a general e liberados. Já avistávamos a cidade quando cai a maior chuvarada. Rodamos mais uns dois km e paramos num posto de gasolina (grifo) para botar a roupa de chuva. Seguimos até uma rótula (rotonda) dentro da cidade (esquecemos de procurar a mana do policial no 5,5). Um gurizão aparece (uma jaqueta com logo de hotel) e faz seu marketing. Resolvemos conferir. Como não dava pro cara ir de carona com a gente por causa da bagagem, ele pega um Táxi (??) que era uma bicicleta com 2 rodas na frente (onde vai o passageiro) protegida por um toldo e uma roda atrás onde vai o motorista dirigindo a coisa. Gozadissimo. Tem de tudo que é tipo e muito coloridas. Conferimos e gostamos. Hotel ______________ a US$30, duplo, garagem, aquecimento, café, bar. No próprio hotel já acertamos o passeio a ilha de Uros para o dia seguinte às 9:00h com uma Van buscando no Hotel, levando para o porto e buscando depois do passeio, por $20 soles/pessoa.. Por Luis Fernando - Quando começamos a contornar o Lago Titicaca, mais precisamente o Lago de Huinaymarca (a parte sudeste é separada do resto pelo estreito de Tiquina, os bolivianos a chamam de Lago Huinaymarca e a maior parte de Lago Chucuito. No Peru, são conhecidas como Lago Pequeño e Lago Grande) chegamos em San Pablo de Tiquina, atravessamos de balsa para San Pedro de Tiquina e seguimos contornando o lago até Copacabana, durante todo este trecho as emoções bateram forte. Além das paisagens espetaculares (um lago imenso com muitas enseadas e ilhas entre as montanhas). Depois de muito planejar a viagem, estávamos ali, no Lago Titicaca (a ficha caiu). Momentos inesquecíveis.

14 JAN - Puno / Uros

Café tomado, 9:10h chega a Van para nos buscar. Fomos até o porto e rumamos para as ilhas. Rústicas. Incomuns, mas não fascinantes e muito comerciais. Fomos há três ilhas em 3 horas e só vimos nativos vendendo artesanatos. A segunda ilha já é uma réplica da primeira. A novidade foi ir de barco de totora da primeira para a segunda ilha. É tipo duma gôndola "daquelas de Veneza" mas feita toda de junco (a totora nada mais é do que um tipo de junco destes que temos nos banhados, no Brasil) e cujas formas mantiveram as características antigas, inclusive com cabeças de animais esculpidas em totora na pro dos barcos (que também se movimentam à vela). Retornamos às 12h e às 14h saímos para Cusco. Estrada boa mas com buracos e remendos. Numa parada para abastecer encontramos um Sul Africano numa KTM 900, indo sozinho pra Copacabana. Falou que encontrou em Cusco três brasileiros com camisetas de Floripa. Pode ser que sejam o Telmo, Julio e outro que não conheço. Anoitecendo, ainda estavamos há 140km de Cusco. Resolvemos dormir na cidade de Cicuani. Pelo jeito só tinha o pulgueiro que nós tivemos que ficar. Hotel $10 soles pra dormir e $15 por um PF de Truta Frita que estava ótimo.
15 JAN - Cicuani / Cusco

A estrada é muito bonita. Com as paradas pras fotos, chegamos a Cusco às 11h. Procurando pela Plaza de Armas conhecemos um motorista de táxi que nos deu algumas dicas sobre passeios, hotéis, etc... Como é Domingo a estação de trem não vende passagens. Resolvemos seguir para Ollantaytambo de moto e comprar as passagens para Águas Calientes lá mesmo. Logo no início da estrada uma barreira para cobrar o Boleto Turístico para o Vale Sagrado. Por este boleto pagamos $70 soles e dá direito de visitar 16 locais (5 museus, Centro Qosqo de Danças, Pachacutec, Saqsayaman, Q'engo, Pukapukara, Tambomachay, Chinchero, Pisaq, Ollantaytambo, Tipón e Pikillacta). Estes locais estão situados ao longo da estrada até Ollantaytambo, por isso cobram no início do trajeto. Fomos por Pisaq para voltar por Chinchero e conhecer todo o Vale Sagrado. Como saímos tarde, resolvemos tocar direto a Ollantaytambo pra chegar antes das 18h e poder comprar as passagens de trem pra Águas Calientes. Frustradas as expectativas. Trem só para o dia seguinte, talvez à tarde. No atendimento da estação pediram que voltasse no dia seguinte às 11h. Fomos para o Hotel Munay Tika, que fica na rua da estação de trem, a US$20 pelo apto. duplo e garagem ao lado $5 soles por dia/moto.

16 JAN - Àguas Calientes


Desconfiado, resolvi ir às 7:30h para a estação e não às 11:00h. Foi a sorte: já tinha uma pequena fila e estavam vendendo passagem para as 9:30h, com retorno pras 16:30h por US$53 por pessoa (o preço da passagem varia de US$20 a US$160 de acordo com a classe do trem). Deixamos bagagens e motos no hotel e fomos só com a roupa do corpo para Águas Calientes às 9:30h, com previsão de chegada às 11:00h. A linha férrea acompanha o rio Urubamba, extremamente caudaloso e com formação de grandes ondas, pois seu leito é de grandes rochas. Um grande contraste com as montanhas altissimas e de rala vegetação. Chegando em Águas Calientes resolvemos trocar as passagens para o dia seguinte, com receio de que não conseguissemos ver tudo em tão pouco tempo. Pegamos bilhetes para dia 17 às 8:30h, pagando US$7 pela troca e mais US$12 pela alteração da categoria do trem. Notaram que aqui é tudo em dólar?? Pois é, nem a passagem de trem e nem a do ônibus para Machu Picchu dá pra se pagar em Soles. Os caras querem é dólar. Depois fomos correndo pra bilheteria do micro-ônibus que vai nos levar a Macchu Pichu. Mais US$12 (ida e volta). Tem a opção de pagar 50% e voltar caminhando, como muita gente faz, mas leva 1:30h. Depois de muito subir chegamos, finalmente, a Macchu Pichu. É algo muito incrível. Percorremos o caminho completo. As ruínas são fascinantes. Não tem como descrever. Estar lá e ver o trabalho que foi feito com aquelas pedras, naquela altitude e acesso extremamente difícil, só vendo para se poder sentir a grandiosidade de toda a obra. Confirmada a suspeita levantada na conversa com o Sul-africano: achamos o Telmo (BMW 650) e o Julio (Yamaha XT 660) no meio do caminho. Nos contaram que sairam dia 27/12, foram a São Pedro de Atacama no Chile e dali subiram para a Bolívia, Salar de Yuni, Cochabamba, La Paz, Puno e Cusco. Junto com eles está o César (Yamaha XT 600). Como eles estão voltando pra Cusco às 16:30h combinamos de jantar amanhã. O Neco, mermão, resolveu subir o Waynapicchu (uns 700m mais acima de onde a gente estava) e voltou abaixo da maior chuva, mas disse que foi espetacular. Terminando o trajeto fomos pro bar local para tomar um refri e bater um papo com o trio. Eles sairam pra pegar o trem e ficamos mais um pouco esperando reduzir a fila para o micro-ônibus. Aí, escutamos um papo em português e fomos conferir. Um casal de São Paulo e 3 filhos, que estavam de pick-up fazendo o nosso percurso ao contrário. Rubinho, Marina e seus 3 grandes conhecedores e comedores de pizza (a gente falava de uma cidade e eles diziam o nome de alguma pizzaria que tinham conhecido). Já no ônibus, sentamos próximos a eles e o Neco comenta que é de Torres e a turma: De Torres??? A surpresa da coincidência é porque vão sempre a Torres para os encontros de Balonismo. Rubinho comercializa balões e participa de eventos. Eles e o Neco já combinaram de se encontrar no próximo evento em Maio. Chegando em Águas Calientes fomos para a Internet e depois jantar no Restaurante Inka Wasi, onde o Neco pediu um Pollo a La Plancha e eu pedi uma Alpaca a La Plancha $90 com as cervas. Excelente ambiente e serviço. Depois da janta fomos conhecer a Plaza principal e nos encontramos com um casal de italianos que vieram na nossa frente no trem, mas ainda não tinhamos conversado. Louco pra parlare italiano fui à luta e batemos um grande papo: em espanhol, português e italiano. Eu, é claro, forçando pra que eles falassem mais italiano. Ele (Paolo) é professor de língua italiana perto de Roma e ela (Elisa) é professora de artes e mora em Santiago, no Chile. Fomos terminar o papo no bar do nosso hotel com cervas e pisco.

17 JAN - Águas Calientes / Ollantaytambo


8:30 sai o trem, com pontualidade. Agora entendemos a diferença de preço: este trem é só um vagão, o qual é a própria locomotiva. Cerca de meia hora de viagem e o trem vai parando e para no meio do nada. Rio Urubamba à direita e altíssimos picos em ambos os lados. Logo vem a ferromoça e: "por favor, nossotros necessitamos la ayuda de 5 varones". Falou em varão é com a gente mesmo (que nada, a gente tava é muito a fim de fumar) e desembarcamos uns 15 machões (acho que todos desceram só pra fumar). Aí olhamos pra frente e tinha uma enorme rocha em cima dos trilhos, que segundo o maquinista tinha 1,4m x 0,90m x 0,70m. Com as chuvas do dia anterior a bixa despencou morro abaixo, quebrou um dormente e ?empurrou? os dois trilhos para o lado. Primeiro a gente tinha que alavancar a rocha contra o barranco e depois o maquinista ia ver se podia passar com os trilhos em curva. Arrumaram um dormente pra servir de alavanca e lá se grudaram os ?quince varones?. E não é que conseguimos tirar a rocha! Passamos bem devagar e pau na máquina. Por causa da rocha chegamos às 11:00h no hotel, juntamos as coisas e direto pra estrada pra chegar em Cusco e procurar a turma de Floripa. O problema é que eu não tinha a mínima idéia do nome do hotel que o Telmo tinha falado. Ficamos dando umas voltas pra ver se lembrava nome de rua ou de hotel, mas nada. Falamos com um motora de táxi e ele indicou uma rua que tinha muitos hotéis pra gente escolher. Pedimos pra ele ir até a rua que a gente ia seguindo e pagava a corrida prele. Aí o cara vai pela rua e para exatamente na frente do Hotel San Isidro Labrador. Pô, é esse! O Neco entra e volta dizendo que as motos do pessoal estão no corredor do hotel. Beleza e pura sorte. À noite jantamos todos juntos para comemorar o 2º encontro. Mas quando estavamos tirando a bagagem ao chegarmos, para uma BMW GS 1.150cc, pilotada pelo Alejandro, Argentino e que está trabalhando em Lima. Um bom papo e diz que não podemos deixar de conhecer o Bar Norton, no 1º andar na Plaza de Armas. Diz que é um ponto de encontro de motociclistas de todo o mundo.

18 JAN - Em Cusco


Saimos cedo para visitar o Vale Sagrado. Fomos aos primeiros quatro sítios arqueológicos ( Saqsaywaman, Pukapukara, Tambomachay e Qengo) que ficam muito próximos, na estrada que vai para Ollantaytambo. Voltamos abaixo de chuva e não conseguimos ver o restante. À noite eu e o Neco fomos ver as danças típicas no Centro Qosqo de Arte Nativo e depois fomos ao Norton Rats Tavern - World Class Pub (www.cuscoonline.com/nortonrats ), que é do Jeffrey Powers (nortonrats@yahoo.com ). Chamado de "Chef", ele tem uma Norton 74 e faz grandes viagens. Lá estava o Alejandro (lembra o da BMW GS?). Com ele e o Chef, ficamos até a 1h da madruga em meio à cervas, cachaça do peru, pisco e "papas fritas". Lá pelas 21h ligamos pro hotel e avisamos o trio porque o papo tava muito bom. Só foi o Julio. O papo foi o mais variado: motocicletas, política, economia, viagens, motocicletas, viagens, motoc..... Foi uma grande noite em que tivemos a oportunidade de estabelecer duas novas amizades. Ah! Só prum gancho futuro: o Chef avisou pra tomar cuidado com o asfalto até Nazca, pois é do tipo escorregadio.

19 JAN - Viagem Cusco/Nazca


Levantamos às 6h, mas arruma tudo, toma café, etc... O pessoal saiu às 9h porque nós dissemos que tinhamos algumas coisas a fazer antes de sair de Cusco. Depois a gente se encontra. Saímos às 10h. A estrada é quase toda em curvas. UMA MARAVILHA! Reta é pra trem. Pista em excelente estado, sinalisada, agora com poucos "perros". Numa velocidade entre 90 e 110km/h, fomos curtindo (as curvas não são fechadas, são curvas longas e inclinadas adequadamente). Sai-se de 700m a.n.m. e chega-se a 4.500m. É uma grande subida que termina ao alcançar-se o altiplano. No final desta subida, faltando só umas 6 curvas para entrar na região plana, eu entro numa curva "ferradura - 180º", embaladissimo, e na saída da curva a moto derrapa inteira de lado, eu levanto a perna direita e ela sai por baixo, indo parar uns 10m de onde eu parei (lembram do aviso do Chef??? Pois é, eu não lembrei.). Meu irmão chega logo após, vê a moto caída mas não me vê ao lado da moto (entendível, porque ele chega deitado na curva e a única coisa alinhada com ele era a minha moto). Levantamos a moto e fomos conferir o estrago. Em mim só uma raspada no cotovelo (antisséptico/gase/esparadrapo) e na Xtzona: quebrou manete da embreagem (viva meu primo Paulinho que na última hora me entregou uma reserva), espelho trincado, suporte do baú esquerdo torto. Ajeitamos o que deu e já íamos seguir viagem quando chega um grupo de 8 suiços de moto alugada (um deles conversei na noite anterior no Norton) e estavam com um jeep de apoio com carro reboque. Já queriam botar a moto no reboque e levar até a próxima cidade para que eu pudesse arrumar. Que nada, tá bom assim! Se ficar melhor estraga. Chegamos à cidade de Chaluanca no final da tarde. A cidade é tão grande que perguntamos prum cara, que tava sentado num banco da praça, onde tinha hotel, e ele apontou prá trás e disse que os outros 3 estavam lá. Pois é: o 3º encontro foi no Hotel Zegarra. Eles tinham saído pra tomar banho termal (disseram que se ferraram porque a água estava a 60º C. Molhar o biscoito nessa temperatura é como depenar frango. Harrghhhh! Na hora da janta o Telmo diz que tratou com o dono do restaurante do próprio hotel, que o cara ia fazer uma espécie de coelho da região. Disse o cara que ali é conhecido como um prato muito especial : ?Cuy?. Enquanto o cozinheiro foi preparar os ?coelhos? eu fui dar uma ligada pras minhas 2 gatas. Aí quem me atende é meu cunhado Diego (que já conhece estas paragens) e aproveito pra perguntar se conhece o Cuy do pessoal daqui (no bom sentido, é claro). Volto pra mais uma cerva e eis que chegam os ?coelhinhos?. Sim, coelhinhos, porque os bichinhos eram pequenos, um pouco maiores que uma codorna no espeto. Comemos, mordemos, chupamos as costelinhas. O tempero eu garanto que faço melhor, mas na fome até Cuy a gente come. Acharam pouco e eu pedi um ?pollo? ? frango, para reforço. Depois que todos comeram o Cuy do dono do hotel, eu pergunto pra eles se eles lembram daqueles bichinhos que a gente pôe numas gaiolinhas e dá pra criançada brincar no Brasil. Logo um lembrou: Porquinho da Índia. É isso aí : porquinho da índia, também conhecido como Cuy. Como cada um fez uma cara diferente, não sei quem gostou e quem enojou. Mas eu gostei de comer Cuy. Eu queria mesmo era ter comido um negócio diferente em Cochabamba, mas fiquei com receio de perguntar : Brochetas. Mas eu ainda vou comer uma brocheta peruana. Bem, vamos parar de sacanagem e vamos continuar a viagem. Por Luis Fernando - Já tínha lido em alguns relatos que o trecho Cusco/Abancay era belíssimo, o que foi confirmado. Estrada com curvas, descidas, subidas entre grandes montanhas. Paisagens lindíssimas. Mas foi no trecho Abancay/ Chalhuanca que a "Dança da Faixa Amarela" chamou a atenção. Vou explicar: uma estrada entre montanhas, costeando um rio (ora na esquerda, ora na direita) na sua maioria plana com pequenos aclives e declives, asfalto excelente e com várias seqüências de "S", onde, como conseguíamos ver longe o final do "S", podíamos fazer a melhor tangência, deitando de um lado para o outro, e nesse vai- e- vem percebíamos, no asfalto, a troca de lado constante da faixa amarela de sinalização. Foi um trecho de muito prazer na pilotagem.

20 JAN - Viagem Chaluanca – Nazca


Saímos os cinco às 9h. A estrada uma beleza. Baixamos dos 4.500 pra 700m novamente. O frio de manhã cedo é intenso. Numa das paradas lembrei do conhaque de alcatrão (da sogra) e detonamos uma garrafa e meia, destas de bolso. Passando em Puquio, paramos para abastecer. Saindo do posto a moto do Neco pega, mas só funciona na lenta. Concluo que deve ser carburação entupida e aviso o trio para seguir viagem, pois vamos procurar um "tailler" - oficina. Na cidade só tem 2 oficinas e os 2 mecânicos estão fora e só voltam no dia seguinte. Encostamos as motos na frente de uma oficina de carros e começamos a desmontar o carburador. Sem prática, levamos uma hora para tirar o carbura e limpar e um raio de um parafuso nos pegou por mais 3 horas. Isto tudo sem saber se o que estávamos fazendo iria resolver o problema. Montamos, testamos e ficou 10. Enquanto montávamos chegou um casal numa Honda África Twin 900cc. Ela Argentina e ele suisso, viajando por 5 meses. Terminamos a moto já escurecendo e tivemos que ficar em Puquio. Achamos o Hostal Yuri's e colocamos as motos dentro do prédio. Pegamos um "táxi"(???) tipo lambreta com 3 rodas, carroceria de fibra, piloto na frente e dois passageiros atrás, e fomos ao restaurante Estância. Internet e telefone nem pensar. As ruas da cidade parecem uma trilha. Eu andava direto em pé, de tanto buraco. Por Luis Fernando - Enquanto no alti-plano Peruano, como disse o Quico, muito frio e eu sem os luvões (contra chuva/frio) na moto, só as de couro por cima das luvas para frio não impediam que as mãos congelassem. Não passava de 80 Km/h, a moto estava perfeita, mas não queria deixar mais negativa a sensação térmica. Então, fomos (no momento viajávamos com mais três amigos) "obrigados" a fazer uma parada, sozinhos na estrada, sentamos no asfalto para pegar um pouco de sol, comemos bolachas salgadas e tomamos alguns goles de "Tira Frio", he he he. Bons momentos...
21 JAN - Viagem Puquio – Nazca


Saímos às 8h. A estrada está péssima neste trecho. Asfalto rachado, remendado e cheio de buracos. Baixamos a velocidade para 50/80km/h. Sai-se, de novo, de 700m para 4.100m e depois baixa-se para o nível do mar, em Nazca. Nos primeiros 30 km só consegui colocar a 5ª marcha uma vez. Quando se alcança os 4.000m está-se entrando nas "Galeras" (região preservada). Mesmo nesta altitude não sentimos frio, talvez por estarmos mais próximos do mar. Quando começamos a baixar (uns 80km de Nazca) a vegetação desaparece, surgem cactos e a visão é de puro deserto. Há 50km de Nazca sentimos um calor em ascendência. Fomos forçados a parar a tirar a roupa para frio (ocasião na qual aquele viado do meu irmão aproveitou pra tirar uma foto quando eu tirava a ceroula no meio da pista). Ao chegar a Nazca fomos almoçar "pollo" e ao pegarmos as motos no estacionamento o termômetro marcava 46,9º C no sol. Já íamos pra estrada quando o Neco insiste em dar uma volta pelo centro da cidade, para conhecer e aproveitar aquele ar agradável que estava. Quando estamos fazendo a circulada padrão em volta da Plaza principal, o Neco me grita: Olha quem tá lá! Não dá pra acreditar: é o 4º encontro com esses caras. É possível que a gente passe um ano sem se cruzar em Floripa, mas aqui...O Julio e o Cezar estavam dando uma volta na praça, enquanto o Telmo dava uma descançada no hotel. Ainda estão em Nazca pois foram ver as linhas de avião esta tarde e só vão pra estrada amanhã. Dissemos que íamos seguir naquela hora pro rumo de Arequipa. Nos encontramos por aí! Na saída resolvemos ver as tais de linhas. Fomos até um ? mirador? ? olhador ? natural e numa torre de 20m e vimos as linhas, que nada mais são do que as pedras do solo afastadas para o lado, deixando à mostra só a areia, permitindo visualisá-las pela diferença de tonalidade, pois as rochas são mais escuras que o solo arenoso. A forma é simples, mas como fizeram isto sem recursos tecnológicos em 300 A.C. é o mistério. Algumas linhas chegam a ter 30km de extensão. Agora, a ignorância chegou ao cúmulo, quando soubemos que as linhas foram descobertas em 1940 e que em 1960 construíram a Ruta Panamericana por cima de alguns desenhos. Saímos de Nazca às 17h e pau na estrada pra não pegar noite. Deserto, ventos fortíssimos e uma estrada excelente levou-nos a Lomas, costa do Pacífico. A moto do Neco falhando um pouco. Quase anoitecendo. Já meio escuro, paramos no primeiro hotel na entrada da cidade. Hotel Lomas Eco Playa, situado à beira-mar, 5m acima do nível da água, visual maravilhoso e enseada de mar manso. Gente na água e uns dez barracões à beira d?água com bares e boites. Pedimos uma cerva e nos acomodamos em uma mesinha com vista pro marzão. Maravilha. Pedimos filé de linguado e cervas. Mas continuamos com azar no banho de chuveiro. Neste hotel ficamos das 22 às 24h esperando a água esquentar. Telefone até que tentamos, mas só tinha um na cidade e tinha uma fila de 10 aguardando. Internet só na lembrança. Por Luis Fernando - Depois de rodar mais de 300 Km (metade deles a 46° no sol), deserto, ventos fortíssimos, moto falhando, noite chegando, de repente estávamos em uma mesa ao ar livre, de frente para o Pacífico (uma enseada bem calma), saboreando um belo jantar com cervas Cusquenãs e ouvindo boas músicas. O som vinha de um apartamento no 2º andar do Hotel, conhecemos algumas pessoas que ali estavam (trabalham na região e ficam hospedados lá) e ouviam músicas de Diego Torres (que não conhecíamos, e gostamos), mas quando souberam que éramos brasileiros, em homenagem, colocaram (bossa nova, Tom Jobim). Foi um final de dia muito legal.

22 JAN - Viagem para Arequipa


Acordamos às 7h e eu fiquei curtindo um pouco a cama, enquanto o Neco foi dar um mergulho no Pacífico (na areia é claro, porque a água é fria pra caramba). Saímos às 9h rumo à Arequipa. Uns 80km rodados e vimos a placa "Puerto Inca", 2km de estrada de terra, e lá vamos nós. É uma enseada lindíssima, rochas pontiagudas e altas junto ao costão. Ali os Incas traziam as ostras pescadas e as salgavam. Os "chacas" (carregadores) as transportavam nas costas até Cusco (300km) para comercializar. Hoje ainda preservam no local algumas instalações e utensílios usados pelos Incas. No local está instalado o Hotel Puerto Inca, estilo pousada, com cabanas à beira-mar, play-ground, piscinas, jet-ski, caiaques, etc... Local bastante agradável para curtir alguns dias. Voltando pra estrada a moto do Neco volta a falhar. Paramos e resolvemos trocar a vela pra tirar a dúvida. Nisto chega o trio. O 5º encontro. Assim não é possível. A gente não consegue se esconder. Dali pra frente fomos juntos. A moto continua falhando e inúmeras foram as paradas, o que nos forçou a dormir em Camaná. Hotel San Diego, $65 soles o apto. duplo (US$20), recepcionados pela simpática Yenni. Janta no hotel, sorvete na Plaza de Armas, Internet e cama. Por Luis Fernando - Entre Chala e Camaná, após o Puerto Inca, rodamos 200km de adrenalina, costeando o Pacífico. A estrada, de asfalto em boas condições, tinha curvas de todos os tipos, subidas e descidas e muitos, precipícios sem proteção ou guard-rail. Tinha visuais fantásticos, mas era muito perigosa.

23 JAN - Viagem Camaná –

Tacna
Acordei às 6:30h e às 7h já tinha descoberto um mecânico pra moto do Neco. O trio ficou arrumando as bagagens nas motos. Lá pelas 8:30h a moto estava pronta e eu pedi pro cara arrumar o pedal das marchas que estava solto. O Neco vai pro hotel pra arrumar a bagagem e o trio já partiu. Saímos às 10h pra tocar 420km. Barbada se a gente pensar em uma estrada do Brasil. As Xtzonas matam em 4 horas ou menos. Hahahaha. Pura ilusão. Primeiros km normais, depois uma seqüência de curvas à beira de precipícios. Logo após, 100km de deserto escaldante. Depois 200 km de deserto com neblina (eu nunca tinha rodado tanto tempo dentro de neblina) e depois só deserto. Chegamos em Tacna às 17:30h e logo achamos uma pousada: Hotel El Meson a $85 soles o duplo, restaurante com preço na média, garagem. Largamos as tralhas e fomos dar uma "mirada" na tal de Zona Franca. É tipo de um kamelódromo. Centenas de lojas de roupas, eletros, info, câmeras digitais, etc... com preços pelo menos 40% mais baixos que no Brasil. Fomos dormir depois da 1h da manhã, não sem antes resolvermos que iríamos pelo deserto até Calama e não pela costa para reduzir em 200km o trajeto.
24 JAN - Viagem Tacna – Iquique


A saída foi um pouco demorada porque fui à caça de uma oficina pra apertar o tal de pedal das marchas, o que consegui numa concessionária Ford. Depois à caça de um "cajero eletrônico", depois à caça de um posto de gasolina que aceitasse cartão "tarjeta". Conseguimos sair às 10h. Meia hora depois chegamos à Aduana de Sta. Rosa. De chegada um policial pergunta se temos o formulário de acompanhantes preenchido. Que formulário? Mas gentilmente ele vai até a guarita e consegue dois com um colega, por $10 soles, FDP. No momento todos os carros estavam parando e tirando toda a bagagem para revista. Tudo era aberto e vistoriado pelos policiais, com cão farejador. Já pensamos: que saco, vamos ter que desmanchar toda a muamba. Mas, para nossa surpresa, mandam que passemos para a 2ª etapa: dar a saída nas motos (agora acho que valeu os $10). Só carimbam e mandam pra imigração, 50m à frente. Carimbam o passaporte e mais um carimbo no raio do formulário. Liberados, saímos e damos de cara com mais uma cancela. Paramos e o policial pede pra ver o maldito formulário. Para, desliga a moto, tira luva, puxa o formulário, o cara olha, fica com uma via, carimba a outra e aí vamos embora. Cinco km depois, Aduana de Chacalluta, entrada no Chile. Aí a coisa pega. Largo a moto e peço informação, pois tinha umas 4 filas e gente pra caramba. 1º controle sanitário, 2º passar bagagem pelo RX, 3º imigração, 4º dar entrada na moto (basicamente é uma importação temporária). A menor fila tinha umas 10 pessoas. Passamos pelas três primeiras numa boa. Na 4ª (o policial da 3ª disse que eu podia levar os documentos das duas motos e o Neco ficava cuidando) entrego os documentos prum cara que devia ter acordado há uns 15 minutos atrás. A besta me olha e pergunta: estás pilotando as duas? Eu pensei em dizer que uma era pra mãe dele, fiquei quieto. Não adiantou argumentar que o colega dele é que disse pra eu levar os 2 documentos. Chamei o Neco. O cara manda esperar, atende uns 3 antes. Me entrega um formulário (permisso temporário) em 2 vias pra assinar. Assino e deixo no guichê. Aí dá um ventão e formulários e caneta batem no peito do cara (que estava virado pro micro). O cara me fulmina com o olhar e diz: "por que jogastes" Pensei: agora deu merda. Só disse: foi o vento. Ele ficou encarando, mas liberou. Depois pediu para o Neco esperar e atendeu mais uns 6 antes, só pra irritar. Na saída encontramos 4 caras de Gramado/RS indo pra São Pedro de Atacama e combinamos de nos encontrar lá. Almoçamos em Arica e fomos pra estrada. A região toda é desértica e quase sem cidades, povoados, casas e é claro, postos de gasolina. Em Huara (240km) com medo da pane seca, conseguimos gasol numa casa próxima a um posto de pesagem. Chegamos a Poso Almonte (fica 50km de Iquique) já noite. Abastecemos, achamos hotel e fomos jantar. Um restaureba medonho, mas o rango foi bom. Tinha máquina de botar moeda e escolher música. Quando chegamos tocavam músicas típicas regionais. Eu ia na máquina e botava Cristina Aguilera, Destiny Childs. Um baita sonzão e os caras olhando. Por Luis Fernando - O Quico esqueceu (ou nem quis lembrar) do Hotel em Poso Almonte, novo e o único da cidade. Depois de negociar o preço, perguntamos para a recepcionista se serviam janta. "Até tem, eu mesma faço e hoje eu não estou afim"(?). Fomos jantar em um restaureba, voltamos para o hotel com a idéia de tomar banho e dormir, afinal o dia tinha sido cansativo e acordaríamos cedo para seguir. O quarto e as camas eram razoáveis, o banheiro pequeno e o box menor ainda, impossível girar o corpo sem bater nas paredes. Como não encontramos toalhas, solicitei ao dono do hotel: "só amanhã, pois lavamos elas e ainda estão úmidas"(?). Usamos as toalhas úmidas (acho que só tinha duas no hotel). Como diz o amigo Miguel, "uno petáculo".
25 JAN - Viagem Poso Almonte - São Pedro de Atacama

Saímos às 8h. Aqui o bicho pega de novo. São 420km até Calama e não sabemos nada sobre postos de gasolina. Rodamos 260km, em pleno deserto, calor infernal, a minha moto já na reserva e paramos no entroncamento das Rutas 5 e 24. É impressionante a educação dos motoristas no Chile. No cruzamento destas duas estradas a gente enxerga alguns km pra cada lado e vê claramente se está vindo outro veículo. Entretanto, eles param, efetivamente, antes de cruzar, diante da placa "PARE". Afinal a placa é para isto. No Brasil a gente só reduz e se estiver enxergando 100m pra cada lado, passa a 120km/h. Não é???
Perguntamos prum cara que estava esperando carona e ele diz que gasol só rodando 1h pra direita ou 1,5 pra esquerda. Notícia legal, né? Mas ele diz que, talvez, no cidade de Maria Elena (20km pra frente) a gente achasse. Não tinha outra saída, pois os nossos tanques reserva não nos levariam mais uma hora. 500m antes de chegar na cidade zera minha gasol. O Neco vai até a cidade e me avisa, por rádio, que achou gasol. Enchemos os tanques e os reservas e fomos procurar um lugar para almoçar. O cara do posto indica com o dedo um restaurante. A cidade parece aquelas do faroeste americano: poeira por tudo (os telhados são cobertos pelo pó), ninguém na rua, porta batendo com o vento, só faltou o saloon e um mexicano dormindo com aquele chapeuzão. Chegamos na frente do "restaurante" e nos olhamos com interrogação. Era uma casinha, com janelas de tela pra mosquito cheias de poeira, uma plaquinha: "pousada" ou qualquer outra coisa assim. Enfiei a mão na porta e abri. Uma velhinha atrás de um balcão, umas quinze mesas repletas de mineiros (a região é conhecida como capital do sal) cada um com um PFezão na frente. Não tinha mesa exclusiva, era tipo refeitório, vai chegando, vai sentando. Negociamos dois PF (um puta dum bifão e salada de alface e tomate) e detonamos. Saímos dali nos matando de rir. Aí digo pro Neco: vamos praquela sombrinha do lado do posto, pra fumar um cigarro antes de pegar a estrada. E me mandei, enquanto ele ia ligando a moto. Chego no posto e vou pra baixo das árvores e espero 5, 10, 15min, e nada do Neco. Peguei a moto e fui descobrir o que tinha acontecido. Não acho o Neco. Ando de rua em rua, e nada. Na praça, nada. Começo a ficar preocupado. Cumé qui o cara some???? Se fosse o trio aquele, a gente nem precisa se preocupar. Vou voltando pro posto e o cara aparece atrás de mim. Tinha se perdido naquela imensa metrópole. Mas, tirando a gozação pra cima do Neco, a cidadezinha tem umas ruas oblíquas de enganar pombo correio. Saímos pra estradinha calorenta rumo à Calama. Chegamos em Calama, abastecemos e sai à caça de um óleo 4 tempos. Os postos de gasolina dificilmente vendem óleo, como os do Brasil. Em todos os Países visitados só encontramos óleo nas casas de "lubricantes". Assim mesmo não é toda que tem o 4 tempos. O calor era sufocante. No posto encontramos, de novo, a turma de Gramado. Para São Pedro de Atacama faltam só 100km. Só 100, até parece. Aqui as estradas são surpresas em todos os sentidos. O trajeto é todo em subida forte. Com 50 km rodados o calor rapidamente vai sumindo e dando lugar a um frio, cada vez mais forte, que nos obriga a parar e botar mais roupa. Há 30km de São Pedro a gente avista o Pico Licancabur e a cordilheira nevados. Começamos a "sacar fotos". Nestes 30km levamos 1:30h só por causa das fotos. Chegando a São Pedro fui para o Hostal Jama, e acertamos uma abitacion doble por $10 pesos/dia. Foi o mesmo hostal que paramos na viagem de 2004. Banho tomado, fomos ao Centro da cidade, que agora conta com dois caixas eletrônicos, mas um estava estragado e o outro sem dinheiro. Maravilha. Fomos jantar, tomamos choop e saímos prontos, não sem antes visitar o pessoal da banda que tocou pra gente música brasileira em 2004. Chegamos, les estavam no meio de uma música. Pararam ra nos cumprimentar, batemos um papo e de repente eles começam a tocar Aquarela do B

26 JAN - Em São Pedro de Atacama


Procuro cedo por excursões, mas tudo fechado até às 9h. Na primeira agência de turismo a surpresa: poucos turistas e dificuldade pra fechar a lotação das Vans. Achávamos que, a esta altura, o trio já tinha chegado em São Pedro, e fomos procurá-los no Hostal do Ruy, onde eles pararam na vinda. Nada do trio. Nem notícia. Depois do almoço fomos ao museu e a alguns artesanatos. Voltando para o Hotel conhecemos um carioca numa XT600, o Ricardo, que estava viajando sozinho e perto de Corrientes atropelou um cavalo, quase quebrou a mão esquerda e ficou 3 dias no hospital se recuperando. Jantamos no Adobe.

27 JAN - Ainda em São Pedro


Conseguimos tomar um belo chimarrão, embaixo de um quiosque, no hostal. Temperatura do mate, uns 60º. Temperatura ambiente 35º embaixo do quiosque e 46º no sol. Saímos para almoçar e depois fomos procurar o trio, e nada. Desistimos do turismo, pois a única maneira seria ir de moto (estrada de rípio e um sol de rachar). Resolvemos ir embora no dia seguinte. Fomos jantar e aí encontramos o trio, que recém tinha chegado. Este foi o 6º encontro, mas o único em que tínhamos alguma pista. Combinamos de sairmos juntos e marcamos às 7h na Aduana. Por Luis Fernando - Com certeza o trecho San Pedro de Atacama -CH à San Salvador de Jujuy - AR, foi o mais diversificado em estradas e paisagens. Retas e curvas, longas e curtas, subidas e descidas, desertos, montanhas de areia, de pedra e de neve, montanha colorida, picos nevados, vulcão, salares. Até então, não tinha presenciado tanta coisa bonita em tão curto espaço de tempo. Em um momento aconteceu uma coisa inesperada, em velocidade nas motos, nas longas retas em meio a uma mistura de desertos e salares, quase dormimos pilotando as XTs. Acho que a combinação de velocidade constante, barulho do vento, ronco do motor, retas que pareciam infinitas, foi que provocou aquela soneira momentânea. Paramos, fumamos, conversamos, caminhamos, tudo para espantar o sono, e seguimos viagem. Sem sono.

28 JAN - Viagem para Salta


Chegamos às 7:15h na Aduana (saída do Chile) e só abre às 8:00h. Ficamos na boca do guichê para não perder a vez. Às oito abre a Aduana e, em 15min, estamos liberados. Até aquela hora o trio não tinha aparecido e fomos embora. As motos não passavam de 60km/h em 3ª marcha. Paramos muito para tirar fotos pois a paisagem é muito bonita. Chegamos à Aduana de Jama (entrada na Argentina) e fui entrando logo pois o Neco estava um pouco para trás. Só anotam no micro a entrada da moto e me mandam pra imigração. Carimbam o passaporte e já estou liberado. Como a gente vai circulando por dentro do prédio, imaginei que o Neco estivesse um pouco atrás. Saio do outro lado e não vejo só a moto do Neco, mas outras 3 junto. Era o trio de novo. 7º encontro. Fomos até Susques juntos. Em Susques paramos, obrigatoriamente, para abastecer e resolvemos fazer um lanche. O trio resolveu não lanchar e largaram na frente. Passamos por Purmamarca e paramos para bater mais fotos da Montanha das 7 Cores. De Purmamarca até Jujuy a estrada é espetacular. Fomos a 110/120 (no fluxo local). Próximo a Jujuy passamos pelo Julio e na entrada da cidade encontramos o Telmo e o Cézar. 8º encontro. Disseram que iam dormir em Jujuy. Fomos direto para Salta. Quase uma auto-estrada. Mas num determinado ponto uma bifurcação e placa nos dois sentidos para Salta. O Neco foi por uma e eu pela outra e paramos nos olhando. Nisto para uma Honda África Twin. Era o Estevão e a esposa chegando de Machu Picchu. Aí nos dizem que à direita é pela região da serra (belíssima. Passamos no ano de 2004) e à esquerda pela auto-pista. Seguimos pela auto-pista e chegamos a Salta às 21:00h. Paramos num pedágio antes de Salta e a moto do Neco não pega para sair. Fui dar uma conferida e descobri que o fusível tinha queimado. Uma direta e seguimos. Chegando em Salta fui, instintivamente, tentando achar o hotel do ano passado. Rodamos um pouco e consegui achar, mas estava lotado. Fomos no Gran Hotel Premier e depois comemos umas empanadas com cerveja Quilmes.

29 JAN - Viagem de Salta a Corrientes


Às 8h fui procurar a oficina Motomax, que já conhecia de 2004. O único problema é que eu estava com o cartão da Motomax, mas ninguém conhecia a rua. Até que descobrimos que o cartão é da Motomax de Mendoza. Mas achei a Motomax dali e deixei a moto pra trocar óleo. Saí pra avisar o Neco pois pelo rádio não estava conseguindo contato, e vejo duas motos com os tanques adesivados (proteção para viagem). Passaram e vi que as placas eram do Brasil. Continuei andando e percebi pelo barulho, que as motos tinham parado. Voltei e os dois caras estavam na calçada pedindo informação. Queriam uma oficina. Indiquei onde tinha deixado a moto e disse que voltaria logo pra gente bater um papo. Uma moto com placa de Minas Gerais e a outra de Brasília. Voltei com o Neco e fomos falar com a dupla. Gilberto e Leo. O Leo é de Minas mesmo, mas o Gilberto mora em Rio Vermelho, em Floripa. Papo vai, papo vem, disse: pô, vcs são os caras que o Paulinho me falou. (Paulinho: nosso primo e que viajou em 2004 com a gente). Eles estavam começando a viagem deles e iam entrar pelo sul da Bolívia para chegar até Machu Picchu. Ficamos de papo até perto do maio-dia e partimos. Seguimos às 14h para Santiago Del Estero (direção sul) para depois dessa cidade rumarmos para leste, em direção à cidade de Goya e lá atravessar o Rio Paraná e seguir até Uruguaiana/RS. Sem qualquer informação sobre a travessia chegamos a Santiago Del Estero e fomos até a Comissária de Polícia para pedir orientação. Ninguém sabia de nada. Tocamos embora. Seguimos para Colônia Dora, Anatuya, Tostado. Numa bifurcação entramos por engano numa outra estrada e depois de uns 10km paramos desconfiados (estávamos seguindo para o norte). Voltamos uns 5 km e achamos uma pick-up parada e pedimos informações. O cara pega um mapa na pick-up e diz que nós estamos na estrada errada. Em compensação, também nos diz que onde queremos atravessar o rio tem 30km de largura e não tem balsa. Olhando o mapa, vimos que a estrada errada ia passar a ser a certa, pois sairia em Presidente Roque Saens Penz, rota para Corrientes. O cara nos diz que, fora um dez km de pista com reparos, a estrada está muito boa. Tocamos em frente a 46º C. A cada 20km a gente parava em algum bar ou posto para beber água pois a boca ressecava total. Os 10 km de "reparos" estavam divididos em três desvios, por estrada de terra (terra não, pura areia solta, vermelha e com um palmo de altura) que nos imundiciou tudo (roupas, motos, capacete, nariz). Quando entramos no primeiro desvio o Neco levou um susto, pois a areia pegava na ponta dos pés e subia quase até o joelho. A 46º tava maravilhoso. Foram 12h de viagem sendo 6h naquela agradável temperatura. Finalmente, já noite, chegamos a Corrientes. Fui direto para a Av. Costaneira (centenas de bares e restaurantes). Paramos em um bar e tomamos duas Quilmes com papas fritas antes de procurar hotel. Depois de uma descansada saímos a caça de hotel e resolvemos ficar em um na saída da cidade para facilitar no dia seguinte.

30 Janeiro - Viagem de Corrientes até Carazinho


Saímos direto pra estrada e a temperatura não estava mais a do dia anterior. A região é mais parecida com o pampa gaúcho, plantações de soja, milho, etc... amenizam o calor pela umidade. Chegamos em Posadas e resolvemos fazer um lanche e descansar um pouco antes de cruzar a fronteira. Estamos em um posto de gasolina engraxando as correntes e o Neco me diz: passaram três motos e o barulho parecia com a do Cezar. Eu digo: não pode ser, estão vindo de um lado completamente contrário. Saímos para estrada e alguns km na frente eu vejo uma moto e mais na frente outras duas. Era o trio, de novo, 8º encontro. A gente fez um gancho pro sul, voltou e ainda encontramos os caras. Assim é coisa do demo. Paramos, atualizamos as informações dos dois grupos e partimos juntos. Eu ia puxando a corda e numa bifurcação parei e esperei o Neco. Ele apareceu e logo atrás o Cezar. Continuei e logo chegamos na fronteira. Puerto Xavier. Fizemos as tramitações de praxe e pegamos a balsa para atravessar para o Brasil. Até aí os três não tinham chegado. Seguimos viagem em direção à Vacaria, com a intenção de parar ao anoitecer. O cansaço começava a bater. O momento da volta é terrível, porque pela frente é só estrada e não tem mais nada para ver ou fotografar. É só seguir. Não tem mais jeito pra bunda. Vira de um lado, vira pro outro. E só quando não tem carro atrás (imagina ficar de bunda pro lado com uma galera olhando. Eu, hein?). Vamos tocando e de repente avistamos 2 motos paradas no acostamento. Chegamos perto, e eram dois daquele trio. NÃO É POSSÍVEL. Como é que eles não nos alcançaram na fronteira e agora estão na nossa frente. Eu já falei: é coisa do demo.9º encontro. Em resumo, foram pela outra fronteira, e o Cezar pegou outra estrada para visitar uns parentes no Rio Grande do Sul. Fomos juntos até Carazinho, onde resolvemos dormir. Ficamos em um hotel no trevo de acesso à cidade. Jantamos juntos e eles resolveram que ainda iriam a Lages para assitir o jogo do Figueirense (que por sinal ganhou de 1x0 do Avaí).

31 Janeiro - Viagem de Carazinho até em casa


Eu e o Neco saímos pela manhã e tocamos até Vacaria, onde nos despedimos. Ele foi pela Rota do Sol, descendo pela Serra do Pinto e eu fui por Lages, descendo a BR282. Chegamos em casa quase no mesmo horário: eu às 16:30 em Floripa e ele às 17:00h em Torres. CONCLUSÕES - Vou ficar um mês sem andar de moto (se eu conseguir, é claro). - Nunca escrevi tanto na minha vida. - A viagem foi maravilhosa, conhecemos lugares e pessoas fantásticas. - Nenhuma viagem é melhor do que uma viagem de moto. - Fomos recebidos muito bem em todos os lugares em que passamos. A pessoa, em geral, tem muita curiosidade quando vêem motociclistas de outro País. - Incrivelmente, não tivemos nenhum problema com a polícia. Pura sorte, porque o trio pagou na ida e na volta, no Pampa del Inferno, para a dupla de policiais corruptos que estão sempre lá e também em Corrientes para a polícia local, que queria US$20 por moto, alegando que tinham cruzado um sinal vermelho. - As estradas, em todos os países visitados, são melhores que as do Brasil. - Nota 100 para a cultura do povo Chileno. No trânsito são educadíssimos e disciplinados. - Nota 5 para o trânsito na Bolívia (Sta. Cruz, Cochabamba e La Paz). Só vendo pra acreditar.

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VIAGEM DE 2010